DO UOL
A jovem, hoje com 18 anos, que matou a adolescente Isabele
Guimarães Rosa em 2020, foi expulsa do curso de medicina da faculdade São
Leopoldo Mandic, em Campinas (SP).
Decisão foi tomada após uma denúncia feita ao comitê de
compliance da instituição. Em nota enviada ao UOL, a faculdade
esclareceu que, após uma apuração, foi constatado que a presença da aluna
"gerou um clima interno de grande instabilidade do ambiente
acadêmico".
Um grupo de mães teria se assustado com a presença da jovem
nas aulas e pressionado a faculdade. A informação foi publicada pelo
jornal O Globo.
O diretor de graduação da faculdade, Guilherme Succi,
ressaltou que o desligamento da estudante traz "segurança" a todos os
envolvidos. "Com base no Regimento Interno da Instituição e no Código de
Ética do Estudante de Medicina, publicado pelo Conselho Federal de Medicina, a
faculdade São Leopoldo Mandic decidiu pelo desligamento da aluna, assegurando a
ela a apresentação de recurso, em atendimento aos princípios do contraditório e
ampla defesa", diz a instituição.
Succi destacou que a faculdade vai devolver os valores pagos
pela estudante. A mensalidade para o curso de medicina na São Leopoldo Mandic
custa cerca de R$ 13 mil.
O UOL não localizou a defesa da estudante
para saber se ela recorrerá da decisão de expulsão. O espaço segue aberto para
manifestação.
"A Faculdade tem como nortes a estabilidade de sua
comunidade, a dignidade acadêmica e o respeito aos princípios éticos que regem
o ensino superior, para o que se faz necessário afastar riscos à reputação e
imagem da Instituição, construída ao longo dos últimos 30 anos", afirmou
Succi.
Processo extinto
Em 2023, a Justiça de Mato Grosso extinguiu o processo de
medida socioeducativa da adolescente. Ela havia sido condenada por matar
Isabele Guimarães Ramos, 14, em um condomínio de luxo em Cuiabá, em 2020.
Segundo o TJ-MT, o processo foi extinto após o
"cumprimento integral da medida de liberdade assistida imposta". O
Ministério Público informou ao UOL que vai recorrer da
decisão.
A adolescente apontada como autora do disparo foi indiciada
por ato infracional análogo a homicídio qualificado, imprudência e imperícia.
Ela foi liberada em junho de 2022 da internação no Complexo do Pomeri, também
na capital do estado, onde ficou por um ano e cinco meses.
O prazo de internação não pode ultrapassar três anos e a
manutenção deve ser reavaliada, no máximo, a cada seis meses. A regra é do ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
Na ocasião, a mãe de Isabele, Patrícia Guimarães Ramos, se
pronunciou afirmou que estava "indignada" e "surpresa" com
a soltura da jovem. "Estou indignada, surpresa, aflita. Minha filha não
foi morta com uma arma de gatilho simples, mas [com] uma arma, que teve quer
ser municiada, alimentada e carregada e a atiradora era perita nisso. [Isabele]
Foi morta sem qualquer chance de defesa! Desqualificar esse crime de doloso
para culposo é inconcebível! Não vou me calar diante de tamanho absurdo",
escreveu nas redes sociais.
Relembre o caso
Isabele foi morta com um tiro de pistola 380, que perfurou a
narina e saiu pelo crânio, na noite do dia 12 de julho de 2020. Ela tinha sido
convidada por outra adolescente, então com 15 anos, para fazer um bolo. As
garotas viviam em um condomínio de Cuiabá e Isabele costumava frequentar a casa
da amiga.
A amiga foi apontada como responsável pelo disparo. Peritos
da Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) constataram que o gatilho
foi acionado e, "no ato do disparo, o agente agressor posicionou-se
frontalmente em relação à vítima, sustentou a arma a uma altura de 1,44 m do
piso".
Em depoimento, a adolescente alegou que a arma era do
namorado dela, na época com 16 anos. Em sua versão, ela contou se desequilibrou
com o case enquanto batia na porta do banheiro para chamar a amiga e que,
quando caiu, a caixa de transporte teria ficado aberta, deixando uma das armas
para fora. Ela ainda explicou que não se lembra de ter apertado o gatilho, mas
acredita ter acionado o disparo que matou a amiga.
Há indícios de que a cena do crime foi modificada. Duas
testemunhas relataram que a limpeza do espaço em que o corpo estava — a suíte
de um dos quartos do imóvel — era incompatível com o local de uma morte com
tiro na cabeça, quando é comum grande derramamento de sangue.
Testemunhas relataram que a arma de onde partiu o disparo
que atingiu a vítima não estava no local próximo ao corpo. Outros armamentos,
que estariam em uma mesa, foram recolhidos durante a chegada do Samu (Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência).
No dia, o pai da adolescente investigada fez um telefonema
para o Samu afirmando que Isabele tinha sofrido uma queda e batido com a cabeça
no chão do banheiro. Ainda na ligação telefônica, o empresário disse que a
adolescente estava perdendo muito sangue, contrariando a cena que foi
encontrada pelo médico neurocirurgião Wilson Guimarães Novais.
Durante o inquérito, 24 pessoas foram ouvidas pelos
delegados que realizaram oitivas. A adolescente não participou da reprodução
simulada. A defesa dela alegou que ela estava sem condições psicológicas de
vivenciar o ocorrido. O pai da adolescente foi indiciado pela Polícia
Judiciária Civil de Mato Grosso pelos crimes de porte e posse de arma de fogo
irregular, além de fornecer arma de fogo a menor de 18 anos, em inquérito
paralelo elaborado pela 2ª Delegacia de Polícia.