Uma reportagem publicada pelo portal G1, nesta sexta feira,
21, expôs à risco a credibilidade da educação de Alta Floresta. O motivo, segundo
matéria da repórter Luiza Tenente, seria a divergência de dados amplamente divulgados
pela prefeitura da cidade.
“Fake News”
A notícia de que “a porcentagem de crianças do 2º ano
alfabetizadas teria saltado de 35% para 83%” não é verdadeira, segundo o
próprio Ministério da Educação. Fato este, que abala a confiança em dados
oficiais de Alta Floresta e provoca uma pergunta: até que ponto confiar em
divulgações da prefeitura?
E neste caso, ainda existiriam outros efeitos colaterais. Exemplo?
Os meios de comunicação da região, que induzidos pela sensação de
credibilidade, replicaram a notícia e acabaram contribuindo para uma grande
Fake News, em nome do marketing da prefeitura municipal.
Outros municípios, embasados nas divulgações da agora denunciada
“Fake News”, acabaram por implementar a metodologia em suas escolas, expandindo
talvez, um verdadeiro “conto do vigário”.
O preço da “MENTIRA”
A propaganda enganosa, segundo os novos dados, pode ser uma
tentativa de justificar o valor pago pela prefeitura para adquirir o método alemão,
chamado IntraAct. Segundo especialistas consultados pelo G1, o pacote pode ter
ultrapassado o custo de R$ 600 por aluno, para liberar na íntegra o passo a
passo da técnica ao professor.
“O método de alfabetização desenvolvido na Alemanha é
vendido no Brasil e promete ensinar crianças a ler e a escrever em
apenas 4 meses. O que é divulgado como "sucesso absoluto" e
difundido para outras redes de ensino, no entanto, não foi verificado por
índices oficiais do Ministério da Educação (MEC)” diz
trecho da reportagem.
MEC não cofirma
A apuração da notícia pelo G1, revelou ainda que, “a avaliação
do MEC mais próxima disso é o indicador Criança Alfabetizada, que usa dados de
2023. Ele foca na mesma faixa etária e mensura os conhecimentos dos alunos em
língua portuguesa. O resultado é bem diferente: Alta Floresta teve
apenas 53,5% dos alunos da rede pública com conhecimentos adequados na
disciplina. É uma taxa ainda menor do que a média nacional (56%)”.
A reportagem ainda traz uma fonte especializada no assunto, Elaine
Vidal, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP),
que criticou a superficialidade do método, baseado na técnica da repetição.
“A alfabetização baseada na memorização pode, de fato, tirar
uma criança do analfabetismo total, porque ela vai decifrar sons e palavras.
Mas é preciso analisar: ela vai saber interpretar o texto que acabou de ler?
Vai atribuir sentido a ele?”, questiona Vidal, que acrescentou, “De tempos em
tempos, aparece um método que promete mundos e fundos, como se a solução [para
o nosso problema] fosse milagrosa. Mas é preciso olhar o contexto maior e
investir principalmente na formação dos professores”, defende.
Secretaria de Educação se defende
O portal que está entre uma das maiores mídias do Brasil e
do mundo, também ouviu o outro lado. Neste caso, a profissional responsável
pela implementação do método em Alta Floresta, Professora Irene Duarte, que
reconheceu as críticas, mas defendeu que “elas podem ser derrubadas".
"O método foi criado para pessoas com transtornos de
aprendizagem [como dislexia e TDAH], mas a gente recomenda para todas. É uma
forma de aprender muito rapidamente a ler. E sem gaguejar” De acordo com
ela, os resultados das turmas após a aplicação do IntraAct foram muito
positivos. "Testei em uma escola pública de Alta Floresta e foi lindo”.
A repórter do portal também procurou ouvir a Secretaria de Educação de Alta Floresta, já que, nos materiais públicos de divulgação, não há nenhum detalhamento. Em resposta, o órgão teria afirmado que foram utilizadas "ferramentas como avaliação municipal e avaliação estadual, dentro do programa Alfabetiza Mato Grosso". Mas a repórter foi além e descobriu que os números “destoam dos apresentados pelo MEC, como mostrado no início da reportagem”.
Lucineia Matos, pela hierarquia, superior à Irene, que
aplicou pela primeira vez o IntraAct justificou à repórter que “em 2023, a rede municipal recebeu
alunos do 2 ao 5º ano oriundos de colégios estaduais. "Isso
impactou diretamente os resultados. Em 2025, a expectativa é que o resultado
positivo do programa se amplifique, refletindo um avanço mais significativo na
alfabetização".
Para ler a reportagem do G1 na integra, clique aqui.