Porta aberta para o tabagismo: Uso de vapes seguem crescendo entre jovens e adolescentes

Estudo revela que usuários de vape têm até 30 vezes mais chances de se tornarem fumantes regulares.

Wendy Oliveira / Redação

Um nova versão de um velho hábito tem ganhado cada vez mais espaço na vida daqueles que cresceram ouvindo que fumar faz mal. A promessa de que os cigarros eletrônicos seriam uma alternativa “mais segura” tem atraído cada vez mais adolescentes para os populares vapes. Porém, o efeito observado é o oposto: em vez de afastar os jovens do tabaco, os dispositivos podem estar criando uma porta de entrada para o cigarro tradicional.

Um estudo publicado na revista Tobacco Control revelou que adolescentes que utilizam vape têm até 30 vezes mais chances de se tornarem fumantes regulares. A pesquisa reuniu dados de três grandes estudos longitudinais realizados no Reino Unido, com participação da Universidade de Michigan, Universidade da Pensilvânia e Purdue University, contando ainda com apoio do Instituto Nacional do Câncer dos EUA e financiamento do Conselho de Pesquisa Econômica e Social britânico.

Risco alarmante entre usuários frequentes

O salto de risco é evidente: entre os jovens que nunca experimentaram cigarros eletrônicos, menos de 2% passaram a fumar cigarro convencional. Já entre aqueles que fazem uso frequente do vape, esse índice chega a aproximadamente 33%. Para os pesquisadores, é como se décadas de políticas públicas contra o tabagismo fossem ignoradas entre esses usuários.

Vício repaginado e renormalização do fumo

Os vapes vêm ganhando espaço entre os adolescentes por suas embalagens chamativas, sabores adocicados e forte apelo nas redes sociais. Especialistas destacam que essa imagem “inofensiva” é enganosa, já que os dispositivos entregam nicotina — uma das substâncias mais viciantes — e estimulam a transição para o cigarro convencional.

O estudo aponta que esse comportamento representa uma “renormalização” do ato de fumar, resgatando padrões que remetem às décadas de 1970 e 1950, quando o cigarro era amplamente aceito. A comparação entre gerações mostrou que adolescentes que usam vape atualmente têm uma propensão semelhante à dos jovens dos anos 1970 a se tornarem fumantes, mesmo vivendo em um cenário de maior controle e campanhas de prevenção.

Alerta para a saúde pública e para o Brasil

Embora os pesquisadores ressaltem que ainda não é possível afirmar uma causalidade direta entre o uso de vapes e o cigarro tradicional, a associação estatística é consistente e preocupante. O grupo seguirá acompanhando a Coorte do Milênio, formada por jovens nascidos em 2000, para entender os impactos de longo prazo.

No Brasil, o cenário também preocupa. Mesmo proibidos pela Anvisa desde 2009, os vapes continuam a ser vendidos e utilizados com facilidade. O estudo reforça a necessidade de fiscalização mais rigorosa e de políticas de proteção específicas para crianças e adolescentes, sob risco de comprometer décadas de avanços no combate ao tabagismo.

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