Transparência
IA adquirida pela prefeitura pode “quebrar o comércio de Alta Floresta”
“Tecnologia é para melhorar departamentos e órgãos públicos” defende presidente da CDL
A diretoria da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) reuniu na manhã desta segunda-feira (17) a imprensa de Alta Floresta para manifestar preocupação com a implantação de um novo sistema de IA (Inteligência Artificial) pela prefeitura, destinado ao cruzamento automático de dados fiscais. A tecnologia deve integrar informações de cartões, PIX, notas fiscais e registros do Simples Nacional, ampliando o monitoramento tributário no município.
A CDL afirma que o anúncio do sistema chegou à entidade sem
qualquer reunião prévia com o comércio ou com os contadores. Segundo o
presidente Alex Cavalheiro, as primeiras informações vieram pelas redes sociais
e veículos de comunicação, o que gerou apreensão entre os empresários. Ele
destaca que a prefeitura já contratou a ferramenta — registrada no Portal da
Transparência por aproximadamente R$ 480 mil anuais — mas não apresentou
detalhes sobre sua operação ou os impactos no setor produtivo.
De acordo com Cavalheiro, a expectativa era de que a
administração municipal convocasse a entidade para esclarecimentos. Relata
ainda que o secretário de Administração teria dito que chamaria a CDL para uma
reunião ao retornar de uma viagem conjunta, o que não ocorreu. Enquanto isso,
informações preliminares sinalizaram a possibilidade de notificações
retroativas de até cinco anos, com multas que podem chegar a 75%, aumentando a
preocupação entre os comerciantes.
O presidente afirma que já recebeu relatos de notificações
enviadas a empresas de fora do município e teme que o mesmo ocorra de forma
repentina em Alta Floresta. “A grande preocupação é que isso, de uma hora para
a outra, comece a fazer essas notificações”, disse.
Cavalheiro também contextualiza que o comércio local
enfrenta um cenário econômico delicado, marcado por queda nas vendas,
inadimplência superior a 70% e incertezas para os próximos anos. Ele afirmou
que, nesse contexto, uma mudança brusca na fiscalização tributária pode causar
ainda mais impacto no setor.
Durante a coletiva, o presidente reiterou que o objetivo não
é confrontar o poder público, mas buscar esclarecimentos e alinhamento para
evitar prejuízos. Sobre a finalidade da nova tecnologia, destacou: “Era para
usar tecnologia para melhorar vários departamentos e órgãos públicos, mas
parece que está utilizando a tecnologia só para regularizar tributação.”
Ao mencionar a reforma tributária nacional, que segue um
cronograma de implantação gradual, Cavalheiro reforçou que mudanças precisam
ocorrer com previsibilidade e clareza. Ele afirmou: “Ninguém aqui é contra
tributar. Ninguém aqui é a favor de sonegação, mas nós queremos que as coisas
sejam bem claras”, acrescentando que tudo deve ser conduzido de forma ordenada
e programada.
Como não houve reunião prévia com a prefeitura, a CDL
protocolou um convite oficial para que representantes do Executivo e do
Legislativo compareçam à sede da entidade no dia 24, às 18h30, para apresentar
detalhes do novo sistema de inteligência artificial. Cavalheiro reforçou que a
entidade está aberta ao diálogo. “O diálogo é a melhor solução para qualquer
problema”, afirmou.
O presidente também destacou o comprometimento da CDL com o
desenvolvimento local: “Sintonia da nossa parte não falta nenhuma. A gente está
aqui para apoiar as coisas boas que o poder público venha a fazer e para
defender o nosso comércio. Esse é o objetivo da instituição CDL.”
Ele lembra que não se trata de um novo imposto, mas de uma ampliação no monitoramento de tributos já existentes. Ainda assim, reiterou que a maior preocupação é a possibilidade de retroatividade: “Esse cruzamento de informações que a gente quer entender melhor, porque o empresário precisa se preparar. Se isso retroagir cinco anos, com multa de setenta e cinco por cento, quebra o comércio de Alta Floresta. A gente quer uma garantia da prefeitura que isso não vai acontecer.”
O outro lado
Em nota encaminhada à Imprensa, Prefeitura de Alta Floresta informou que adota um novo sistema de autorregularização tributária, criado para modernizar o acompanhamento fiscal e permitir que os contribuintes ajustem eventuais inconsistências antes de qualquer penalidade. O Executivo destaca que as informações utilizadas nos cruzamentos já eram acessíveis ao poder público por meio da Receita Federal e da SEFAZ-MT; o diferencial agora é a possibilidade de o próprio contribuinte fazer as correções dentro da plataforma.
A Secretaria Municipal de Fazenda afirma que a iniciativa busca tornar a gestão tributária mais transparente, atualizada e voltada ao atendimento do cidadão, aproximando contribuinte e administração. A prefeitura também ressalta que o projeto já foi apresentado à classe contábil e segue em debate com diversos segmentos, entre eles a OAB e a CDL.
O sistema ainda está em fase de implementação e, após essa etapa, será lançada uma campanha de orientação para explicar seu funcionamento e seus benefícios. Segundo o Executivo, a medida segue princípios de responsabilidade fiscal e pretende fortalecer a arrecadação municipal, alinhada ao compromisso de desenvolvimento de Alta Floresta

