A Justiça Eleitoral de Mato Grosso cassou, nesta quarta-feira (2), os mandatos do prefeito de Brasnorte, Edelo Marcelo Ferrari, da vice Roseli Borges e do vereador Gilmar Celso Gonçalves, conhecido como "Gilmar das Obras", por prática de abuso de poder econômico nas eleições de 2024. A sentença foi assinada pelo juiz Romeu da Cunha Gomes, da 56ª Zona Eleitoral.
O esquema descoberto envolvia um conjunto de irregularidades em comunidades indígenas Enawenê-Nawê que influenciou diretamente os resultados do pleito. Entre as práticas identificadas, a Justiça identificou:
Incentivo à transferência de domicílio eleitoral de indígenas, para incluir seus votos em Brasnorte.
Transporte irregular de eleitores no dia da eleição, mesmo após bloqueio judicial, por meio de caminhonetes com combustível pago por agentes ligados à prefeitura.
Distribuição de dinheiro, gás, combustível e até frangos congelados como “recompensa” em troca de votos.
Quebras de sigilo bancário mostraram centenas de milhares de reais circulando entre os envolvidos. Em especial, Gilmar e o servidor Rogério Gonçalves foram multados em R$ 53.205 cada por captação ilegal de votos e declarados inelegíveis por oito anos, junto com mais três acusados.
Nas seções indígenas 107 e 108, onde a população Enawenê-Nawê concentrava seus votos, o vereador Gilmar foi votado por 79 eleitores — uma votação expressiva, considerada decisiva frente à diferença de apenas 155 votos entre as chapas.
O juiz concluiu que, mesmo sem prova direta de envolvimento ativo da chapa majoritária, tanto prefeito quanto vice se beneficiaram das irregularidades — o que justifica a cassação dos diplomas. No entanto, ambos mantêm a elegibilidade, já que não foram responsabilizados diretamente pelas ações ilegais.
Com a decisão, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso deverá agendar novas eleições para prefeito e vice de Brasnorte. O vereador Gilmar e os demais envolvidos ficam impedidos de disputar cargos públicos até 2032.
Edelo Ferrari afirmou em suas redes sociais que respeita a decisão judicial, mas irá recorrer ao TRE-MT e manterá a atuação na prefeitura até que o caso seja concluído. “Confio que a instância superior restabelecerá a verdade”, afirmou.