O Promotor de Justiça Paulo José do Amaral Jarosiski determinou a abertura de um inquérito civil para apurar irregularidades e até crime, supostamente cometidos pela Prefeitura Municipal de Carlinda, ao longo dos últimos anos. Uma prática talvez encarada com uma certa “naturalidade” em uma cidade pequena, mas que na verdade pode resultar em perda de função pública, suspensão dos direitos políticos e multa.
Tudo foi descoberto a partir de uma denúncia, na última
campanha eleitoral, que pedia investigação sobre supostos crimes eleitorais
cometidos pelo atual prefeito, então candidato à reeleição, Pastor Fernando
(UB). Durante as investigações, o Ministério Público ouviu testemunhas e
levantou alguns indícios que apontaram para o que pode ser o maior escândalo
político administrativo da história de Carlinda.
O escândalo...
Conforme os autos, nas últimas 17 edições da Festa do
Agricultor, evento mais tradicional do ano, realizado pela Prefeitura
Municipal, atos de improbidade administrativa geraram danos ao erário público. Os
indícios, confirmados por testemunhas ouvidas pelo Ministério Público, entre
eles servidores, apontam que a carne servida no tradicional almoço, durante as
edições do evento, sempre foi paga com prestação de serviços à particulares com
maquinários e outros recursos públicos.
O que sempre foi divulgado como “doação” na verdade era
ressarcido aos “doadores” em forma de serviços, autorizados sem o cumprimento da
lei. A própria Controladoria Interna do Município, que tem a função de garantir
a legalidade dos feitos municipais, afirmou que “o gado foi trocado por
serviços realizados pela Prefeitura aos particulares "doadores"”, prática
que se repete há 17 anos, conforme documento obtido pela reportagem do Clique
Notícias.
Em seu despacho, o Promotor de Justiça lembra que “ainda que
prescritos com relação a edições muito anteriores, se constatado Dano ao
Erário, a sua restituição é imprescritível”, disse Paulo Amaral.
As testemunhas...
Sem saber especificar a existência de registros, valores e
como era feita a contraprestação, a servidora Erica Marciele Furlan de Pedri de
Campos, confirmou que “a carne utilizada tradicionalmente no almoço do evento
sempre foi trocada com particulares pela prestação de serviços públicos”.
Quem também foi ouvido pelo Ministério Público foi o
Secretário de Obras, Lucio Tragino Costa, que afirmou ter participado
diretamente das duas últimas edições da festa. Ele disse também que teria
registros sobre a troca dessa carne por serviços públicos, afirmando que “todos
os serviços feitos pelos maquinários da prefeitura tem planilha”, mas não soube
indicar a existência de documentação formal ou algum procedimento administrativo.
Ele afirma ainda, em oitiva, que recebia ordens “para prestar o serviço em
troca da doação e ele executava".
O Prefeito e a Ex-Prefeita...
Embora adversários políticos ferrenhos um do outro, os antigos aliados, Prefeito Pastor Fernando e a Ex-Prefeita Carmem Martines, estão do mesmo lado no escândalo. Ainda vale lembrar que quando Prefeita em seu segundo mandato, Carmem tinha como vice o atual gestor, que assumiu após ela renunciar o cargo para cumprir a promessa de que deixaria o cargo se Lula vencesse as eleições para Presidente.
Em entrevista ao Jornal Mato Grosso do Norte, o atual Prefeito,
Pastor Fernando (UB), disse que restou o procedimento no Ministério Público,
depois de uma tentativa de adversários de cassar sua candidatura. Ele também
declarou que considera a importância da Festa do Agricultor como “vitrine” para
a economia local e visibilidade do município.
“No meu entender, o poder público também tem essa atribuição de promover divertimento para a comunidade. Esses momentos de festa e alegria faz o povo de Carlinda se sentir bem” disse o prefeito ao jornalista e Diretor do jornal, José Vieira.