Delegado confunde celular com arma e atira na cabeça de empresário

Ruy Guilherme Peral já atuou na Delegacia de Colíder

Alexandre Aprá/Isso é Notícia

Foto: RD News

O delegado Ruy Guilherme Peral, ex-titular da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI) de Cuiabá, admitiu em depoimento à Corregedoria-geral da Polícia Civil de Mato Grosso, que confundiu um aparelho de celular com uma arma de fogo e diz ter atirado na cabeça do empresário Antonio Marcos Santos Silva para “repelir uma injusta agressão”.

Antonio levou um tiro no rosto efetuado pelo delegado Peral durante um cumprimento de mandado de busca e apreensão decorrente da Operação Bittrack, deflagrada pela Polícia Civil de Santa Catarina, em outubro de 2024. Peral atuou somente no cumprimento do mandado de busca e apreensão contra o investigado.

Em depoimento à Corregedoria em inquérito aberto para apurar o crime de lesão corporal culposa – ao qual o Isso É Notícia teve acesso com exclusividade -, Ruy Peral alegou que o empresário tentou fechar o portão ao avistar a equipe de policiais e, ao ver um objeto de cor preta em suas mãos, efetuou o disparo contra o investigado, atingindo-o no rosto.

Após ser alvejado, o empresário foi levado ao hospital pela própria equipe de policiais.

“Relação com o Comando Vermelho”

Sem apresentar provas, Ruy Peral afirmou que havia apurado que o investigado era de “alta periculosidade” e mantinha relações com o Comando Vermelho e chegou a afirmar que ele já havia sido alvo de uma operação da Polícia – sem citar qual – na qual teriam sido apreendidos R$ 1 milhão em espécie na casa do empresário.

A Operação Bittrack, todavia, nada tem a ver com tráfico de drogas, mas, sim, um esquema de fraude em bitcoins descoberto pela Polícia Civil de Santa Catarina.

“Previamente havíamos levantado que tratava-se de uma indívida de alta periculosidade, visto que estaria envolvido com uma facção criminosa – o Comando Vermelho – aqui no Estado de Mato Grosso. Ele, inclusive, já teria sido alvo de uma operação da Polícia Federal na qual teria sido apreendido com ele quase R$ 1 milhão em espécie e também nós possuímos informações que esse indivíduo possuía armas de fogo”, disse o delegado, em seu depoimento.

Equipe de delegado estava na esquina e surpreendeu empresário ao sair de casa

Outro ponto curioso do depoimento do delegado Ruy Peral é de que sua equipe estava na “esquina” e surpreendeu o empresário ao abrir o portão de casa.

O procedimento adotado pelo delegado é bastante incomum em operações policiais onde geralmente batem na porta dos alvos às 6 horas da manhã e não ficam os esperando sair.

“Nós realizamos a diligência, ficamos próximos à residência dele. Então, percebemos que ele tinha realizado a abertura do portão, isso tudo monitorado por RPAS, com drone. Quando percebemos que ele havia aberto o portão, rapidamente nos deslocamos, estávamos na esquina da residência, estacionamos na frente da residência, estávamos fardados, com o luminoso da Polícia ligado”, afirmou.

Nesse momento, o delegado afirmou que fez uma “incursão” e percebeu uma “certa resistência” do investigado.

“Nesse momento em questão de segundos, visualizei rapidamente que ele estava com um objeto preto em suas mãos e teria movimentado esse objeto e foi feito um disparo. A situação foi contida e verificamos que não se tratava de uma arma de fogo”, relatou o delegado que completou informando que sua equipe chamou a ambulância para que ele recebesse socorro médico.

Questionado pelo delegado Marcelo Torhacs, corregedor auxiliar, sobre o objeto, Ruy Peral afirmou que se trata de um aparelho celular de cor preta e que o confundiu com uma arma de fogo.

A Corregedoria-geral da PJC pediu mais 120 dias para conclusão do inquérito contra o delegado Ruy Peral e aguarda o envio das imagens do circuito interno da casa que estão em posse da Polícia Civil de Santa Catarinal.

O pedido de dilação de prazo foi apresentado à Justiça pelo promotor de Justiça Milton Pereira Merquíades, da 5ª Promotoria de Justiça de Várzea Grande, no último dia 14 de julho.

Confira o depoimento do delegado Ruy Guilherme Peral


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