Agronegócio
Déficit de armazéns ameaça produção recorde de grãos em Mato Grosso
Capacidade de armazenamento cobre menos da metade da safra e acende alerta no setor produtivo.
Mato Grosso deve enfrentar um dos maiores gargalos logísticos da última década: a insuficiência da capacidade de armazenagem diante da projeção recorde da safra 2025/26. Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o estado tem condições de estocar apenas 46,53% do volume total de grãos que será colhido neste ciclo.
O levantamento indica que, mesmo sendo líder nacional na produção agrícola, Mato Grosso opera com uma estrutura de armazéns que não acompanha o ritmo acelerado de crescimento das lavouras. A defasagem afeta diretamente a soja, o milho e o algodão, principais culturas do estado, e coloca pressão sobre produtores que dependem de espaço adequado para guardar a produção enquanto aguardam melhores preços de mercado ou janelas de exportação.
Atualmente, a capacidade registrada é de aproximadamente 47 milhões de toneladas, enquanto a safra mato-grossense projetada ultrapassa 100 milhões de toneladas de grãos. Essa diferença expõe uma necessidade urgente de ampliação, já apontada em ciclos anteriores e que se agrava em momentos de superprodução.
Produtores e entidades do agronegócio afirmam que a falta de infraestrutura impacta diretamente os custos, já que muitos agricultores precisam recorrer à venda imediata, muitas vezes com valores abaixo do ideal, ou ao aluguel de espaços privados, o que aumenta o custo operacional por tonelada armazenada.
Outro ponto crítico é o escoamento da colheita. Com armazéns insuficientes, cresce a movimentação simultânea de cargas, intensificando o fluxo em rodovias e terminais e provocando congestionamentos — especialmente nos períodos de pico da colheita.
O setor também alerta para o risco de perdas pós-colheita, já que a falta de espaço leva ao armazenamento improvisado ou ao transporte antecipado em caminhões, em momentos em que a umidade e a temperatura ainda podem comprometer a qualidade dos grãos.
Mesmo com a expansão recente de alguns empreendimentos privados, o déficit continua alto e evidencia a dificuldade de acesso a crédito, especialmente para pequenos e médios produtores. Segundo especialistas citados pelo levantamento, o cenário exige planejamento de longo prazo e estímulo ao financiamento de estruturas de estocagem, essenciais para garantir competitividade e reduzir perdas ao longo da cadeia produtiva.
Apesar das limitações, a expectativa para 2026 permanece otimista no campo, mas o alerta sobre a armazenagem preocupa o setor. Para analistas, sem investimentos estruturais, o crescimento acelerado da produção pode deixar de gerar os resultados econômicos esperados.


