Sem luz no campo
Falta de energia revolta Produtores e causa prejuízo em Alta Floresta
Eles prometem reagir em protesto, na próxima segunda feira.
Foi no barracão do Clube de Mães da comunidade Santa Lúcia, a 40 km de Alta Floresta, que o encontro aconteceu, na noite da última quarta-feira, 01. Mal começou, e... acabou energia. Justamente o “tema da noite”!
A reunião aconteceu às escuras. E não foi por falta de
transparência não! Pelo contrário, os moradores se organizaram em prazo recorde
para discutir os problemas que eles vêm enfrentando na região do setor Sul, com
a constante falta de energia elétrica. Na próxima segunda feira, 06, os
produtores pretendem se deslocar até a cidade de Alta Floresta para registrar o
caso junto ao Procon e solicitar apoio das autoridades. Eles querem audiências
com o prefeito, representante da Concessionária Energisa e do Ministério Público,
para tratar da situação.
Eles combinaram de participar da sessão, na Câmara, para
solicitar apoio dos vereadores nesta articulação. Uma ata fez constar todas as
participações de todos os presentes, entre eles, moradores de diferentes comunidades
da região.
“Hoje mesmo, a energia foi chegar já era quase dez horas da
manhã e tem vacas que não consegue tirar na mão. Meu marido teve que deixar elas
presas para tirar na ordenha, e acaba que prejudica os bezerros e toda a
sequência”. Quem revela é a produtora rural, Camila Caroline, que no escuro,
concedeu a entrevista ao Clique Notícias.
“A sorte é que, quando eu sai de casa, eu tinha acabado de desligar
a bomba. Então, assim, amanhã eu vou ter água. Só que daí temos queijos. O queijo
agora, vou ter que colocar dentro do freezer, porque lá vai estar mais
geladinho. Se caso não voltar até amanhã, eu vou ter que dar um jeito de levar
para a cidade, se não perde” explica Camila, que até hoje lembra com tristeza
do que a família já enfrentou, vivendo nessas condições. “Lá em casa, teve uma
época que a gente perdeu queijo e leite também. A gente perdeu trezentos litros
de leite”.
Foram vários os relatos de experiências vividas no dia a dia
que ameaçam a permanência no campo, ao comprometer a renda dessas famílias e
até questões básicas, como a água. “Todos nós aqui temos poços, então precisa
da energia. Sem energia, sem água” falou a produtora, citando que em dias como
esse, a produção de queijo tem que parar.
Sobre como a concessionária reage, Camila reclama. “A gente
abre protocolo e eles não vem. Eles não dão assistência, demoram. E acaba que
prejudica todo mundo”. Ela não é a única a citar o desprezo da empresa,
responsável pelo serviço. O produtor rural Jesus Augusto Lopes, residente na
sétima sul, também enfatiza a dificuldade de comunicação e transparência.
“Eu comprei um gerador só para colocar internet para fazer
reclamação, mas não adianta fazer. Não vale nada! Você faz oito, dez protocolos,
e você vai no sistema e o sistema diz que não tem reclamação nenhuma” confirma Augusto.
Ele e outros produtores, dizem que muitas vezes o contato é feito com um
funcionário da empresa, por ser conhecido da comunidade, mas é visível a falta
de autonomia dele, que depende de ordens superiores e também o baixo efetivo da
Energisa que não dispõe de equipes suficientes.
Com a margem de lucro pequena, os produtores se sentem
prejudicados. “A gente levanta quatro e meia, quatro horas da manhã, chega no curral,
não tem como tirar leite. Você tem que soltar a vaca cheia, ou tirar na mão. Quer
pesar um gado, não tem energia para usar a balança. É um problema muito sério!”
explica Augusto.
O produtor considera necessária a troca da rede de cabos
para melhorar a eficiência do serviço. “A Energisa deveria providenciar, urgentemente,
a troca dos fios dessa rede velha, que foi a primeira rede que foi posta nessa
comunidade nossa. O mais urgente possível, trocar essa fiação” ressaltou em
entrevista a reportagem do CN.
“Semana passada lá em casa ficou três dias sem anergia. Na outra
semana, ficou quatro dias. Tem dia que fica dois dias. Essa madrugada, era quatro
e meia acabou a energia. Voltou era nove e meia. Sexta feira acabou era de
noite, voltou sábado, já era três horas da tarde. E acabou de novo, no meio da
nossa reunião aqui. Estamos no escuro. Sem energia mais uma vez!” desabafou Augusto,
que cobrou atitude dos representantes políticos. “Na época da política eles vem
aqui. Agora, na época dessa falta de energia, não tem nenhum aqui. Infelizmente!”
O vereador e a cobrança na tribuna...
O Clique Notícias apurou que houve atuação de um parlamentar
nesta mesma semana, na Câmara de vereadores de Alta Floresta, durante a sessão
ordinária da última segunda feira, 29. O Vereador Professor Nilson (MDB) subiu
a tribuna para cobrar justamente o direito dos moradores das comunidades
afetadas pela constante falta de energia elétrica.
O parlamentar chamou a atenção para a necessidade de “providências
urgentes” para resolver a problemática. Comunidades como a Ouro Verde, Rio
Verde, Santa Lúcia, Menino Jesus, sétima Sul e Serra Verde foram citadas pelo
vereador, que criticou duramente a Concessionária Energisa, pelo tratamento
dispensado à zona rural.
“Toda a população ali está à mercê dessa situação. De hora
em hora cai a energia elétrica” pontuou o vereador, em seu pronunciamento, destacando
os prejuízos que os produtores amargam com a perca de seus produtos. “A população
dessas localidades está no prejuízo” afirmou o parlamentar, garantindo que seu gabinete
vai procurar os responsáveis pela Concessionária.
“Eles estão desesperados. É necessário nós fazermos uma
força tarefa para interpelar junto ao prefeito municipal, junto a Energisa,
para que possamos fazer esse movimento de desobstruir a rede, a fiação e,
inclusive, a troca de postes, que é necessário ali, porque a rede é bastante
antiga e ela precisa desse cuidado, desse monitoramento periódico, que ao meu
ver não está sendo feito” criticou o vereador, que fotografou alguns flagrantes.
Perigo na estrada...
A reportagem do Clique Notícias literalmente “sentiu na pele”
o que os moradores enfrentam. E foi na volta pra casa. A MT 010, próximo a
Comunidade Bela Vista, estava interditada após a queda de uma árvore, que
atingiu o fio da rede de alta tensão.
Além da obstrução, o cabo da rede foi abaixo. Com a
escuridão, e por ser tratar de um ponto isolado, sem condições de calcular os
riscos de uma descarga, nossa equipe decidiu retornar alguns quilômetros e
utilizar um desvio, pela rota da MT 325, que liga a Pista do Cabeça ao bairro
Universitário, em Alta Floresta.
O OUTRO LADO...
O Clique Notícias encaminhou um pedido de nota de retorno por
parte da Concessionária Energisa. Mas até o fechamento dessa matéria, nossa
Redação não obteve resposta. O espaço seguirá aberto para qualquer manifestação.


