Presos com diploma
Advogados são flagrados tentando escapar de penitenciária em MT
Agentes acham grade cortada, discos de corte e corda artesanal em cela
Uma tentativa de fuga registrada na madrugada desta quarta-feira (5) movimentou o Complexo Penitenciário Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande. Quatro advogados presos, que ocupavam a Sala de Estado Maior, são suspeitos de preparar uma evasão. Agentes penitenciários localizaram uma grade serrada, discos de corte e uma corda improvisada conhecida como “tereza”.
De acordo com o boletim de ocorrência, o alerta soou por
volta da 1h, quando um policial na Torre 2 ouviu ruídos estranhos vindos da
área reservada a detentos com curso superior. A equipe de plantão foi verificar
e encontrou o ferrolho do portão de acesso ao banho de sol cortado e caído no
chão. A direção do presídio acionou o Serviço de Operações Especiais (SOE) e a
Polícia Militar para dar apoio.
Os presos identificados são Pauly Ramiro Ferrari Dorado, Paulo
Renato Ribeiro, Nauder Junior Alves Andrade e Fabio Monteiro, todos advogados.
Durante a abordagem, a situação ficou tensa. O boliviano Pauly Dorado resistiu
à revista, teria ameaçado os servidores e declarou ser integrante do Comando
Vermelho (CV). Após a chegada da equipe do SOE, a inspeção foi concluída.
Na revista pessoal, os agentes encontraram uma pequena
porção de maconha escondida na cueca de Dorado. Já na sala onde os detentos
estavam, foram localizados três discos de esmerilhadeira e uma corda artesanal
feita com sacolas plásticas de colchão. O alambrado próximo à cela também
estava rompido e coberto com pedras e capim seco, para disfarçar o dano.
A ocorrência descreve ainda que o detento Nauder Andrade
apresentava ferimentos pelo corpo e manchas de sangue, semelhantes às
encontradas na grade danificada.
Os quatro advogados foram levados à 4ª Delegacia de Polícia
de Várzea Grande, onde negaram as acusações. Em depoimento, todos afirmaram que
estavam “dormindo quando foram acordados”. Dorado disse que a grade “já estava
danificada”, negou ter posse da droga — alegando que “foi plantada” — e ainda
negou a existência dos discos. O boliviano também acusou agentes de agressão,
mencionando o Subdiretor Marco Aurélio e o policial penal Daniel, do SOE.
O advogado Fabio Monteiro confirmou o relato do colega,
dizendo que Pauly afirmou que “aquele buraco na grade já estava lá”. Já Nauder
Andrade, que apresentava escoriações, declarou que os objetos apreendidos
“foram plantados” e que, ao se recusar a ser revistado, “foi empurrado e
chutado por um policial penal”. Ele acrescentou que “tinha conhecimento que a
grade estava quebrada desde o preso antigo”.
A Sala de Estado Maior, destinada a detentos com
prerrogativas legais, acabou se tornando o foco da tentativa de fuga. O perfil
dos ocupantes chama atenção: Fabio Monteiro, de 63 anos, cumpre pena de 22 anos
e 6 meses por homicídio qualificado e associação criminosa; ele havia fugido em
2012 e foi recapturado em 14 de outubro deste ano. Nauder Andrade, de 30,
cumpre pena de 10 anos por homicídio qualificado; Pauly Dorado, de 45, responde
por associação criminosa; e Paulo Renato Ribeiro, de 52, está preso por
calúnia, difamação e injúria.
O delegado Jefferson Dias Chaves manteve o flagrante e
autuou os quatro por associação criminosa e dano qualificado. No caso de
Dorado, também foram incluídos os crimes de resistência e posse de drogas. O
delegado pediu a conversão das prisões em preventivas, justificando o “risco
concreto de fuga coordenada” e as ameaças feitas contra os agentes
penitenciários, inclusive a menção à facção CV. O caso foi encaminhado à Gerência
de Combate ao Crime Organizado (GCCO).
A OAB foi formalmente notificada sobre o episódio.


